martes, 24 de abril de 2012

Tempos sinistros: a esquerda de El Salvador


O que poderia ter sido um período de acumulação de forças transformou-se num período de desilusão generalizada e confusão obscura.

Por Erick Barrera Tomasino
«Dois perigos deve temer o homem novo: a direita quando é destra, a esquerda quando é sinistra», advertia-nos terminantemente o escritor uruguaio Mario Benedetti, como se se tratasse de uma profecia, nestes tempos de indignação desorganizada. Tempos sinistros, em que a direita faz e raramente a esquerda desfaz, pelo contrário, repete-o e reconstrói-o.
Em que momentos ambos os extremos convergem, se entrecruzam, se confundem nas diagonais da política e da ideologia? Estamos à beira da bipolaridade ou de tanto ver, deixar fazer, deixar passar, estamos a tornar-nos viscosos e já não distinguimos um do outro? São estes tempos sem vaivéns, sem norte nem sul, num dos mais pequenos e diminutos países das Américas? Este país que parece um manicómio com duas portas, uma que dá para a Guatemala e a outra para as Honduras, onde a única saída é converter-se num pequeno espaço sócio-comunitário, onde tudo se revolva e se entremeie.
Não há nada, ou quase nada, que passe despercebido. Isto se os grandes meios de entretenimento não distraírem uma população propensa às artes subtis de alcançar sempre, ou quase sempre, os extremos. Por isso não se deve estranhar que num país com aproximadamente seis milhões de habitantes em 21.040 quilómetros quadrados, ou seja, com uma densidade populacional de 290 habitantes por quilómetro quadrado, a esquerda se possa encontrar com a direita e de vez em quando dêem apertos de mão e façam sorrisos.
É demasiada população para não se ficar ao corrente do que se passa em redor ou, precisamente por isso, para fingir que não se vê aquilo que esteja mais longe do que o nariz, tão achatado de pancadas e tropeções que já quase nada interessa nem surpreende. Aqui, onde se dança a cumbia como se fosse original do país [a cumbia é uma dança popular de origem colombiana], tal como sucede nos velhos manuais de DIALMAT [materialismo dialéctico?] a política move montanhas de opinião sem lhes conhecer a origem.
Perante este panorama emaranhado, nos corredores da política, da política de esquerda, as pessoas interrogam-se qual será a opção, se é que existe, para encontrar o caminho da liberdade. Aqueles que caíram com o muro em 89, aqueles que além de depor as armas também depuseram os seus princípios dão imediatamente um tiro na cabeça, e nas cabeças de quem lhes permita, anunciando o fim da esquerda. E confundem as suas mãos e as suas canetas com as canetas e as mãos e os livros de cheques dos que continuam a acreditar na livre empresa.
É que a história recente deste pequeno e desgrenhado paisinho habitua-nos a pensar em partidos para eleições e quando se pensa em partidos de esquerda associamo-los automaticamente à FMLN [Frente Farabundo Martí para la Liberación Nacional]. E aqueles que não querem considerar a FMLN como o partido da esquerda renovam os seus votos de castidade ideológica fundando partidos que concorrem e morrem em cada eleição na disputa pelos votos.
O que resta do velho Lenin quando definia o partido político como a «forma superior de organização», se aqui nem as formas inferiores são bem vistas, por lhes faltar democracia? Como se a democracia se reduzisse a colocar todos na salgalhada da nação, sem diferenças e com palavras pagas ou apagadas consoante o destino que cada um trouxer.
Em que momento aprendemos que se os partidos se constituírem como formas superiores de organização o imaginário colectivo não supera a visão de uma estrutura a partir das suas direcções — e acções — mais visíveis e não a partir da composição orgânica de todos os seus militantes?
Parece quase aterrador, quase apocalíptico, que após as últimas eleições se ouçam várias pessoas decretando o fim da FMLN, como se uma redução no número de votos fosse o sintoma único do enfraquecimento de um partido. Isto numa clara perspectiva linear e positivista da política. Como se a política fosse uma empresa que mede o lucro a partir dos votos e não o avanço na edificação de um projecto político a partir das suas acções.
A culpa é da cúpula, gritam as cúpulas sem base dos caudilhos da esquerda. Contraditoriamente, os sectores que se consideram mais radicais coincidem aqui com as opiniões da burguesia, também radicais, mas ao contrário. Neste último período, estas organizações propuseram-se como objectivo único demonstrar que a FMLN «virou á direita», que não é o mesmo que «endireitada»; que se tornou «neoliberal», admitindo que alguma vez se «liberalizara». Mas que em lado nenhum se discuta — para não dizer se efectue — um combate frontal contra o capitalismo.
Logo anunciam que são a verdadeira esquerda que, atacando a esquerda eleitoralista, falsa esquerda, se apresentarão como intransigente opção… nas próximas eleições. E chama-se à FMLN, partido que muitas vezes sofre de uma surdez programada, partido político eleitoralista, para se distanciarem quando eles mesmos participarem do jogo eleitoral. Que, como eles são verdadeiras refeências de esquerda, deixarão de ser processos eleitoralistas e passarão a ser processos políticos, numa confusão dialéctica.
Desde há uns anos, aquilo que poderia ter sido um período de acumulação de forças transformou-se num período de desilusão generalizada e confusão obscura. As teses de Fukuyama vão e vêm em cada eleição, consoante os resultados que estas revelarem. O que demonstra que em geral existe uma crise «teórica, programática e orgânica» deste leque incompleto das esquerdas de El Salvador.
«Um dos grandes objectivos das negociações de paz entre a FMLN e o então governo de El Salvador para pôr fim à luta armada foi a abertura de um processo de democratização que deixasse para trás as décadas de ditadura, de violações dos direitos humanos e de fraudes eleitorais», disse Schafik Handal no remoto ano de 2004. E que em 2012 parece ser superado pelo entusiasmo burguês da democracia de eleições sem programas nem bases teóricas.
Temos de ser mais participativos, é o que se exige à esquerda em nome da «democracia», para converter os espaços de tomada de decisões numa espécie de ring onde se puxam os cabelos despenteados das ideologias. Que os figurinos dos cabeleireiros de El Salvador mudam de acordo com as modas, pois vivemos num país da América Central que só as vêem passar quando vão do norte para o sul ou inversamente, como as aves de arribação na mudança de época. Senão, que se pergunte ao presidente, que tem um pé em cada hemisfério e o pescoço torcido de tantas voltas que dá.
Esta coisa das esquerdas parece um melodrama. Cada vez que uma comete um erro, as outras afastam-se e acusam-na; mas se houver uma fresta por onde entrar, dançam ao ritmo das alianças tácticas e momentâneas. São movidas pelas conjunturas como um bloco de carnaval. Uma esquerda que se encontra sem se cumprimentar, ainda que faça sorrisos.
A crise também atinge o estado de espírito das esquerdas; por isso, cuidado com as tentativas de criação de um novo partido em plena crise, pois em plena crise nascerá. E em cada eleição estaremos a desarmar-nos por sinistras razões. E — oxalá que não — também menos sinistras e mais destras lutando pelos direitos exclusivos de representação da esquerda no jogo eleitoral.
Originalmente publicado em espanhol em: antes da tempestade e republicado com tradução por PassaPalavra (http://passapalavra.info/?p=56981)
Tradução por Passa Palavra - passapalavra.info

Tiempos Siniestros: la izquierda salvadoreña


Erick Barrera Tomasino

“De dos peligros debe cuidarse el hombre nuevo: De la derecha cuando es diestra, de la izquierda cuando es siniestra” nos advertía tajante el escritor uruguayo Mario Benedetti, como si de una profecía se tratara, en estos tiempos de indignación desorganizada. Tiempos siniestros donde la derecha hace y pocas veces la izquierda lo deshace, sino más bien lo repite o lo reconstruye.
¿En qué momentos confluyen, se entrecruzan, se confunden por los laterales de la política y de la ideología ambos extremos? ¿Estamos al borde de la bipolaridad o de tanto ver, dejar hacer, dejar pasar, nos estamos volviendo viscos que ya no distinguimos una de la otra? ¿Son estos tiempos sin vaivenes, sin nortes y sin sures en uno de los más pequeños y diminutos de los países de las Américas? Este país que parece manicomio con dos puertas, una limitando con Guatemala y la otra con Honduras, donde la única salida es volverse un pequeño espacio sociocomunitario donde todo se revuelca y se entremezcla.
No hay nada, o casi nada, que pase desapercibido. Eso, si los grandes medios de entretenimiento, no distraen a un población avezada en las agudas artes de irse siempre, o casi siempre, a los extremos. Por ello no es de extrañarse, que en un país, de aproximadamente seis millones de habitantes en 21.04 kilómetros; es decir, de una densidad de población de 290 habitantes por kilómetro cuadrado, la izquierda se suela topar con la derecha y de vez en cuando se estrechen la mano y se pelen los dientes.
Demasiada población como para no enterarse lo que sucede alrededor, o precisamente por eso, para desentenderse de lo que pasa más allá de las narices, tan chatas de tanto golpe y tropiezo que ya casi nada interesa o sorprende. Aquí, donde la cumbia se baila como si fuera propia, al igual que los viejos manuales de la DIALMAT, la política mueve montañas de opinión sin saber su origen.
Bajo este enredado panorama, los corredores de la política, de la política de izquierda, se preguntan cual es la opción, si es que la hay, para tomar la senda de la libertad. Quienes se cayeron con el muro en el 89, quienes además de deponer las armas, también depusieron sus principios, inmediatamente se dan un tiro en la cabeza y en las cabezas de quien se deje, anunciando el fin de la izquierda. Y confunden sus manos y sus plumas con las plumas y manos y chequeras de quienes siguen creyendo en la libre empresa.
Es que la historia reciente de este pequeño y despeinado paisito acostumbra a pensar en partidos para elecciones y cuando se piensa en partidos de izquierda se asocie automáticamente con el FMLN. Y quienes no quieren ver al FMLN como el partido de la izquierda renueven sus votos de castidad ideológica fundando  partidos que corren y mueren en cada elección por la competencia de los votos.
¿Que quedó del viejo Lenin cuando definía al partido político como la “forma superior de organización” si aquí ni las formas inferiores son bien vistas por carecer de democracia? Como si la democracia se restringiera a meter a todo el mundo a la ensaladera de la nación sin diferencias y con voces pagadas y apagadas dependiendo del destino que cada uno traiga.
¿En qué momento aprendimos que si bien, los partidos se constituyen como formas superiores de organización, el imaginario colectivo no supere la visión de una estructura a partir de sus dirigencias -y diligencias- más visibles y no a partir de la composición orgánica de toda su militancia?
Suena casi aterrador, casi apocalíptico que posterior a las últimas elecciones, se escuchen diversas voces decretando el fin del FMLN, como si una reducción en los votos es el síntoma único del debilitamiento de un partido. Esto bajo una clara visión lineal y positivista de la política. Como si la política fuese una empresa que mide la ganancia a partir de los votos y no el avance en la construcción de un proyecto político a partir de sus acciones.
Es culpa de la cúpula gritan las cúpulas sin base de los adalides de la izquierda. Contradictoriamente, los sectores que se llaman de más radicales, coinciden en este punto con las voces de la burguesía también radicales pero a la inversa. En este último periodo, estas organizaciones han colocado como pauta única, demostrar como el FMLN se ha “derechizado” que no es lo mismo que “enderezado”; “neoliberalizado”, asumiendo que ya alguna vez se habría “liberalizado”. Pero que por ningún lado se discuta -por no decir- se realice un combate frontal al capitalismo.
Luego anuncian ser la verdadera izquierda que por atacar a la izquierda electorera, falsa izquierda, se presentarán como surda opción a… las próximas elecciones. Y llaman al FMLN, partido que por buenos ratos peca de una sordera programada, partido político electorero, para distanciarse de este cuando entren ellos al juego electoral. Que por ser estos verdaderos referentes de izquierda ya no serán procesos electoreros, sino procesos políticos, en dialéctica confusión.
Hace unos años lo que podría constituirse como un periodo de acumulación de fuerzas, más bien se volvió un periodo de desencanto generalizado y de confusión intrincada. Las tesis de Fukuyama van y vienen en cada elección según los resultados que estas dejen. Muestra de que en general existe una crisis “teórica, programática y orgánica” de este incompleto abanico de las izquierdas salvadoreñas.
“Uno de los grandes objetivos de las negociaciones de paz entre el FMLN y el entonces Gobierno de El Salvador, para poner fin al conflicto gobierno armado, fue el de abrir un proceso de democratización, que dejara atrás las décadas de dictadura, violaciones a los derechos humanos y fraudes electorales” decía Schafik Handal allá por el año 2004. Y que en 2012 aparenta ser superado por el entusiasmo burgués de la democracia de las elecciones sin programas y sin basamento teórico.
Hay que ser más participativos se le exige a la izquierda, en nombre de la “democracia”, para hacer de los espacios de toma de decisiones una especie de ring donde se tiran los cabellos mal peinados de las ideologías. Que en el catálogo de pelos salvadoreños estos varían según las modas, pues vivimos en un país de la América Central, que por su ubicación solo la ve pasar de cuando van del norte al sur y viceversa como a los azacuanes en cambio de temporada. Sino preguntémosle al presidente que tiene atadas sus estacas en ambos hemisferios y el cuello torcido de tanto meneo.
Parece un melodrama esto de las izquierdas. Cada vez que una comete un error, las demás se distancian y le reprochan; pero no si bien hay una pequeña grieta por donde entrar, estas bailan a ritmo de las alianzas tácticas y momentáneas. Se le mueven las coyunturas como a toda una chuca cuta en pleno carnaval. Una izquierda que se topa sin saludar aunque se pelen los dientes.
La crisis también retoca el estado de ánimo de las izquierdas; así que cuidado a las tentativas de crear un nuevo partido en plena crisis, pues en plena crisis nacerán. Y estaremos en cada elección desarmándonos por siniestras razones. Y –ojalá que no- también menos siniestras y más diestras peleando por los derechos reservados de representar a la izquierda en el juego electoral.

jueves, 12 de abril de 2012

Guión de un día de Campo

Foto: Mariana Toscana
Por: Erick Barrera Tomasino.


Es una mañana de mucha humedad, la leve llovizna de la noche anterior más  los primeros rayos del sol que caen sobre la tierra apenas mojada comienzan a elevar la temperatura en este pequeño caserío de vocación agrícola. Josué y Nahúm preparan sus herramientas de labranza. Machete y azadón. Alguna botella con agua para apaciguar el asfixiante calor de estos días no está de más en el pequeño matate. Apenas una taza de café representa el “primer desayuno”. Las tortillas que prepara Teresa -la compañera de Josué- serán para más tarde cuando toque comer “de verdad”. Ambos toman sus cosas y se dirigen a la parcela que han arrendado para trabajar este año en lo que siempre han hecho: labrar la tierra para cultivar sus alimentos.
Aún es pronto para pensar en el invierno, “pero hay que tener todo preparado” reflexionan los hermanos; además ha sido una de las condiciones del dueño del terreno. Estos hermanos como muchos otros campesinos en el país no son propietarios de la tierra y cada año tienen que negociar el arrendamiento con quien sí la tiene. “Este año hemos tenido suerte, logramos conseguir un terreno de media manzana algo cerca de la casa, así no vamos a caminar mucho”.